31 outubro 2008

De Desejo e de Saudade

Penso em você com tanta intensidade
Que a imaginação é pouca para conter tanta vontade
E todo meu corpo se inflama em convite urgente
O desejo guardado dá febre, arde no sangue quente
E de repente, eu não me importo que você me queira bem
Desde que me queira tão desesperadamente
Que um minuto a mais seja um tempo exagerado
Eu troco todos os seus olhares ternos, de bom grado
Por um tipo de olhar mais esfomeado, que me exija
E quero que o seu querer me aflija
Na mesma medida e nos mesmos lugares do gostar
E quando, finalmente, você vier me salvar
Vai me encontrar com a boca e os olhos molhados
De desejo e de saudade, em um só misturados

28 outubro 2008

Morar sozinha é...

- decretar a inutilidade dos shorts de pijama e passar o tempo inteiro de calcinha
- aprender da pior forma possível que ter pena de si mesma é pura perda de tempo quando não se tem platéia
- virar uma manteiga derretida pelas coisas mais cretinas e engolir o choro pelos motivos mais graves
- descobrir um prazer particular em enfeitar a sala com flores, mesmo que seja para ninguém ver
- desenvolver um desejo urgente de aprender a cozinhar qualquer coisa que não seja macarrão – ou, pelo menos, de aprender a fazer um macarrão que seja realmente bom
- ficar com os olhos cheios de lágrimas ao lembrar do bife à milanesa com purê de batata de casa da mamãe
- decorar a programação de todos os canais da TV a cabo
- chegar em casa depois do trabalho e não ter a quem dar “boa noite”
- sentir medo de ter perdido a voz por falta de uso depois de dois dias sem dizer uma palavra
- pensar em uma barata entrando pela janela como a pior catástrofe que poderia acontecer nos próximos anos

03 outubro 2008

Insanidade Temporária

Definitivamente, o peso desse céu imenso sobre a minha cabeça não está me fazendo bem. Coisas estranhas acontecem comigo. Sinto que meus olhos passam o tempo todo esperando um pretexto para transbordar. Comerciais de comida de cachorro e reality shows me fazem chorar lágrimas sentidíssimas com gosto de sopa instantânea na solidão do meu sofá. Qualquer carinho no cabelo, desses que se distribuem por aí como esmolas, me comove como a declaração de amor que esperei a vida toda para ouvir. Preencho minhas horas desertas brincando de criar múltiplas personalidades para te impressionar na próxima vez que nos encontrarmos - possibilidade cada vez mais remota, para o mal das minhas fantasias, que serão amassadas como bolinhas de papel com rascunhos de projetos mal-sucedidos e jogadas na lixeira das minhas frustrações. É a imprevisibilidade das cores desse céu (azul-turquesa-ofuscante, cinza-fim-do-mundo, rosa-crepúsculo-melancólico) que tem afetado a minha capacidade de julgamento e me deixado assim, confusa. Tão confusa que às vezes - imagine! - penso em você como um sentido para minha vida. Quem de nós diria, hein? Logo eu, que sempre me bastei, me dou conta de estar protagonizando um clichê barato e sem glamour de mulher sozinha, mas foda-se. Estou muito cansada e muito carente para fazer tipo, e se alguém me fizer festinha, eu vou atrás abanando o rabinho e pedindo para me levar para casa.