08 dezembro 2008

Contraste

Luzes de cidades distantes te cegam, seus olhos se afogam e seus pensamentos se perdem em telas de cinema projetadas no céu. Personagens femininas de ar apaixonantemente perturbado se materializam em sua vida real, e elas tem longas pernas, bocas vermelhas e gargalhadas espontâneas que se congelam em enquadramentos estranhos, numa vida muito mais divertida do que tudo que posso te oferecer. Eu sei das mãos que se estendem para você te oferecendo guloseimas, posso ver as janelas refletidas no brilho de suas unhas e imaginar o gosto doce derretendo quente em sua língua, por isso não te culpo por me preterir. Eu também cairia no canto da sereia, se na minha vida houvesse outro som além da TV ligada. Olho minhas banalidades – o jeito como alguns fios de cabelo sobram na nuca quando faço um rabo de cavalo, calcinhas coloridas, as flores na sala – pensando como elas pareceriam a seus olhos, mas tudo sempre me parece bobo e fútil. Porque, no fim das contas, tudo o que posso te dar sou só eu, com minhas manias, meus medos adolescentes, alguns livros certos, um monte de músicas erradas, pizza delivery no jantar, sábado à tarde com a cabeça no seu ombro no cinema e um sorriso forçado nas fotos na esperança de ser bonita.