01 outubro 2009

Let Go

A trincheira que criei para o meu último desejo inconfesso foi derrubada quando a sua boca encostou na minha. Um susto. Uma delícia. Estava inaugurada uma nova era de intimidade entre nossos lábios, muito além dos cigarros e segredos alegremente compartilhados.
(Não é curioso que, me conhecendo tão bem, você ainda não conhecesse o meu gosto?)
Agora eu me entrego em ombros nus e cabelos despenteados ao vento que entra pela janela aberta do seu carro, como me entrego a você sempre que vejo os seus olhos furta-cor se turvando em um tom de verde perigosamente cheio de convites. E eu nunca perco tempo te perguntando para onde estamos indo, porque você não conseguiria me ouvir por causa da música sempre tão alta - e, afinal, para que fazer perguntas tão prosaicas quando a manhã seguinte e a vida real parecem tão distantes?
Sei que o seu mundo é feérico demais para a minha alma de leite quente, mas não me queixo. O momento em que te adoro mais é justamente aquele – pra lá da décima dose, a centímetros de um beijo tantas vezes ensaiado - em que seu sorriso me convence de que não faz sentido calar nossas vontades se tudo passa tão rápido.