Vícios

Eu sou dada a vícios
E trago a prova de todos eles
Nas pontas dos meus dedos
As unhas roídas
O calo da caneta
O cheiro do cigarro
O tremor nas manhãs seguintes
E a textura de sua pele gravada a fogo
Em minhas impressões digitais

Eu sei que vou me arrepender... (2)

Porque eu quero que seus olhos vejam o céu da noite mais linda do mundo através dos meus
Porque a 7 graus centígrados eu penso nos seus beijos como o melhor método para aquecer minhas bochechas
Porque eu escuto as baladinhas da fase yeah-yeah-yeah dos Beatles suspirando por você
Porque seu nome aparece nas minhas conversas com uma assiduidade decididamente suspeita
Porque eu não consigo deixar de interpretar o fato de que eu e você decoramos as mesmas falas, dos mesmos filmes, como um sinal de que fomos feitos um para o outro
Porque, quando eu estou viajando, faço contagem regressiva de quilômetros e horas para voltar a te encontrar
Porque eu fico acordada de propósito só para gastar as horas pensando em você

Por tudo isso, não preciso mais nem dizer nada:
Todo mundo, incluindo o porteiro do meu prédio, já percebeu que eu estou apaixonada por você.

A Planta

Meu sentimento por você é uma planta exótica, possivelmente carnívora, e eu não faço a menor idéia do que fazer com ela. Não sei quantas vezes por dia devo regar e nem se devo colocar no sol. Algo me diz que por baixo da sua aparência inofensiva existe alguma espécie de perigo latente, e é por isso que eu desconfio tanto dos seus botõezinhos de flor. Tenho a impressão de que se eu resolver colocá-la em um vasinho decorativo, um belo dia vou chegar em casa e descobrir que a sala se transformou em uma densa floresta tropical, com enormes trepadeiras se enroscando pelos móveis. Mas toda vez que eu penso em deixar que ela morra, decido esperar só mais um pouquinho, só até a primavera, para ver como serão as flores. Isso, é claro, se ela não comer meus dedos até lá.