21 janeiro 2008

Quero (2)

Eu quero o frio na barriga de uma nova sensação
Sorvete de um sabor desconhecido derretendo na língua
A descoberta do prazer em decolagem de avião
Mãos soltas no espaço, na montanha-russa
E o vento brincando em cabelos compridos
Quero banhos de mar e primeiros beijos
Para espanar a poeira dos sentidos
Sempre que eu esquecer como é estar à flor da pele
Quero que meu sorriso se revele
Diante de tudo o que for inesperado
Quero múltipla escolha sem nenhuma alternativa errada
Os tremores nas pernas dos amores de uma só temporada
Uma música inédita que, de repente, me desvenda
A cada dia, um novo enfeite que me deleite o olhar
E a promessa de uma vida que me surpreenda.

05 janeiro 2008

Time of my Life

Hoje eu vou dar uma festa particular na minha alma. Vou abrir as janelas para deixar o vento entrar trazendo ar fresco e afastar a mobília lá de dentro para ter mais espaço. É tão simples, basta tirar tudo o que está atravancando o caminho que você cria uma pista de dança! Meu coração já avisou que vai de sandálias Havaianas, para poder ficar mais à vontade: quer dançar as músicas que ele mais gosta até ficar disparado.
No fim da noite, bêbada de liberdade, declaro amor à milésima vista e fidelidade incondicional a mim mesma, e saímos eu e meu coração dançando pela rua, os dois de sandálias Havaianas, braços sobre os ombros, estrelas sobre a cabeça, mil cores diante dos olhos e uma vida inteirinha de possibilidades pela frente.

Sem Vergonha

Estou em crise, meu amor
Crise de abstinência
Não sei aonde vai me levar
Toda essa estudada decência
Que me esforço pra cultivar
Quando estou em sua presença.

Se o que eu quero é tirar a roupa
E perder a vergonha na cara
Me sentir uma atriz pornô
Pedindo “ai, por favor, não pára”
Vou trocar de uma vez
Esse hábito de freira já gasto
Por hábitos bem mais gostosos
E, com certeza, bem menos castos.

Que peça de roupa você prefere
Que eu tire primeiro?

"Eu, Leitora de Revistas Femininas" ou "327 formas de morrer de rir"

Antes de qualquer coisa, preciso esclarecer que comecei a ler revistas femininas por razões profissionais. Era estagiária em uma agência de publicidade que atendia uma marca de calçados femininos, e por isso era preciso acompanhar os anúncios que a concorrência faz nesse tipo de revista. Então sobrava para mim, pobre estagiária, o trabalho sujo de toooooodos os meses ler a Nova, a Marie Claire, a Claudia, a Capricho, a Uma, a Elle e todas as outras publicações voltadas para mulheres para recolher os anúncios das marcas concorrentes e ficar sabendo mais sobre o nosso público-alvo.

Mas, para ser bem sincera, eu devo confessar que, mesmo agora, tantos anos depois, continuo lendo esse tipo de revista em uma ocasião especial: quando vou ao salão de beleza. Faço essa concessão à futilidade por uma questão de adequação. Não tem nada a ver ir para um salão e ficar lendo... sei lá... Goethe! Assim como não tem nada a ver ouvir Beethoven em plena Praça Castro Alves numa terça-feira de Carnaval. Então, entre ceras quentes e frias, esmaltes e secadores, fico me entretendo com revistas femininas e de fofocas variadas, perfeitamente integrada ao ambiente.

Depois de alguns anos de leitura constante (afinal, vou ao salão uma vez por semana), posso dizer que adquiri um certo conhecimento e uma boa intimidade com essas revistas. A seção da Marie Claire que eu mais gosto, por exemplo, é uma chamada “Eu Leitora”, que tem depoimentos palpitantes como: “Perdi tudo no bingo”, “Menti a idade para poder doar um rim”, “Minha história de amor com um padre”, “Casei com o sogro da minha filha”, “Transei com dois irmãos na mesma hora”, “Fui apaixonada por um gay”, “Troquei de marido com minha amiga”, “Uma gata de estimação transformou minha vida”, “Me vinguei do meu ex-marido sendo sua amante”, e assim por diante. Mas as minhas favoritas são: “Larguei a escola e fui viver com os aborígines”, “Fui mulher de bandido e tenho medo que ele me mate” e “Fui raptada por um cangaceiro aos 14 anos” (hahahaha). São histórias tão escabrosas que parecem mais episódios do “Acredite se Quiser”, mas foram mesmo publicadas na revista (juro!!!).

Mas se você é uma mulher que tem mais de 20 anos e quer se sentir velha, leia a Capricho. Lembra da “revista da gatinha” que você lia na sua adolescência, e que quase todos os meses vinha com Ana Paula Arósio na capa? Esqueça! Não dá para reconhecer. Além de trazer matérias de sexo com uma riqueza de detalhes que eu nem sonhava existir nos meus 14 anos, a revista agora tem como “muso” ninguém menos que Felipe Dylon. Um fedelho que, convenhamos, nem engrossou a voz ainda e nunca deve ter feito a barba... Isso para não falar em todo o elenco de Malhação, figurinhas fáceis em qualquer edição. Lendo Capricho, dá para entender o significado da expressão “conflito de gerações”, e ter a mesma experiência de espanto e incompreensão que nossas vovós devem ter tido quando surgiram a Jovem Guarda e a calça jeans.

Mas, de todas as revistas femininas, a campeã é a Nova. Uma revista que tem na capa uma chamada bem gritante de “Sexo Lacrado! Proibido para menores de 18 anos!”, e traz as páginas correspondentes a essa matéria literalmente lacradas com um adesivo merece ser classificada como hors concours. O pior é que o tal adesivo invariavelmente rasga algumas folhas quando é retirado... ou será que sou eu que fico muito afoita para ler essas reportagens? Bom, isso não vem ao caso. A Nova é fascinante porque todas as matérias, mesmo as que parecem totalmente inocentes, têm um tom subliminar (ou bem explícito mesmo) de sexo. É uma matéria sobre carreira? Então ela com certeza vai abordar a possibilidade de um caso com o chefe. Sobre viagem? Então vai falar de um “gato” (essa é a linguagem da revista) que pode proporcionar um tórrido romance de verão. Sobre... culinária? Um ranking de comidas afrodisíacas! Decoração? Outro ranking, dessa vez o dos sofás mais confortáveis para uma “transa” (novamente, linguagem da revista). Para a leitora de Nova, encontrar o ponto G é uma coisa superada... ela já está à procura das outras letras do alfabeto há muito tempo.

A Nova também é especialista em matérias que ensinam passo a passo como chegar a um orgasmo “de ver estrelas” em apenas 45 segundos, ou falam das 327 técnicas que você pode desenvolver com sua língua “para deixar o gato louco de tesão”. Fica parecendo que o sexo é uma coisa tão simples, previsível e tediosa quanto uma receita de bolo, ou um aparelho eletrônico que precisa de um manual de instruções com 200 páginas para funcionar bem.

Todas as revistas femininas têm alguns pontos em comum: além das seções obrigatórias de moda & beleza tem a invariável seção de testes, o horóscopo (podendo ter pequenas variações: I-Ching, runas, numerologia, tarô cigano), e uma espécie de Correio Sentimental ou seção-divã em que as leitoras contam seus problemas em um texto de 10 linhas e tem uma solução milagrosa proposta por um psicólogo (na Nova, essa seção se chama “Pergunte ao Dr. Gaudêncio”). E quando vai chegando o verão, pode ter a certeza de encontrar matérias sobre como entrar em forma em tempo recorde e sobre os malefícios que o sol causa à pele e aos cabelos, com sugestões de cosméticos que podem ajudar a minimizar os estragos. As seções de relacionamentos também não mudam muito de uma revista para outra, e contemplam basicamente 3 tipos de situação, com variações sobre os mesmos temas: 1) como encontrar seu príncipe encantado (para as solteiras), 2) como superar um pé na bunda (para as abandonadas), 3) como apimentar sua relação (para as comprometidas).

Imaginem um extraterrestre escolhido para ser mandado à Terra em missão de reconhecimento, e que recebesse uma pilha dessas revistas para ir se familiarizando com o sexo feminino antes de embarcar na sua nave espacial. Depois de uma leitura atenta, ele concluiria que as terráqueas só têm duas preocupações na vida: os homens e a própria aparência. E ele não estaria tão errado assim nessa avaliação, porque mesmo as feministas mais fanáticas, que fariam uma fogueira com essas revistas, no fundo gostariam de ser lindas e de encontrarem as suas almas gêmeas. Nisso, todas as mulheres são iguais. A única diferença é que algumas são assinantes dessas revistas, e outras não.