Juntar os Cacos
Mil e quinhentos quilômetros de asfalto e promessas não cumpridas nos separam e o seu vulto me assombra em lugares onde você nunca esteve. Nunca as páginas dos livros e o cheiro de roupa lavada estiveram tão impregnados da sua ausência. Tenho pesadelos acordada às 4 da tarde em frente a sinais vermelhos e me sinto meio morta em vida ao pensar naquilo que nunca seremos. As rosas colombianas nas vitrines das floriculturas me ofendem pessoalmente – são lembretes em vermelho de tudo o que você não me deu. Como se eu pudesse esquecer que você me prometeu o idílio das noites na varanda e me deixou na alma um vazio tão grande que eu passo mais tempo perplexa tentando descobrir o que fazer com sua imensidão do que propriamente triste, como seria de se esperar. Empenhei a parte mais bonita de mim em nome de um tipo de amor sem relógios e sem réguas, na ilusão de que essa idéia – tão linda, tão louca – era nossa. Mas ela era só minha. Não reconheço mais os contornos do meu rosto e nem dos meus desejos agora que o espelho se partiu, e sozinha eu não consigo juntar os cacos. Estou exilada de tudo o que me acostumei a ser enquanto fazia parte do seu mundo. Por isso, em videoclipes imaginários, eu jogo os braços em torno de seu pescoço e te suplico que invente um sonho novo onde eu possa morar.