Hipocondria
Tudo começou com uns suspiros. Depois, veio uma tremedeira nos joelhos. Então, olhos lacrimejantes, palpitações e devaneios.
Me assustei. Imaginei os suspiros fossem causados por alguma disfunção respiratória. A tremedeira nos joelhos bem que poderia ser o princípio de um Mal de Parkinson, os olhos lacrimejantes com certeza eram resultado de um problema oftalmológico. As palpitações indicavam claramente uma deficiência cardíaca. Mas o mais preocupante eram os devaneios. “Será que estou ficando louca?” – pensei.
Logo procurei um médico, e expliquei a ele todos os sintomas. Enquanto ele me escutava com interesse, torcia para que ele descobrisse logo qual a doença misteriosa que me acometia. Talvez um vírus africano desconhecido, ou quem sabe uma dessas síndromes raras com nome alemão que só atingem 0,0000001% da população.
Quando acabei meu longo e detalhado relato, perguntei, aflita:
- Então, doutor? O que eu tenho? Pode ser bem sincero, eu estou preparada para o pior – afinal, já tinha pensado na possibilidade do vírus africano e da síndrome rara.
O médico me olhou com uma expressão muito séria e me respondeu:
- Receio que você esteja sofrendo de amor.
- Amor?! Mas essa doença não foi totalmente erradicada através das campanhas de vacinação?
- Ainda ocorrem alguns casos isolados...
O médico continuou sua explicação, mas eu, atordoada, não podia compreender suas palavras.
A suspeita da síndrome rara quase se confirmava. Era o fim. Me imaginei vivendo numa colônia isolada, como as dos leprosos, cercada por enfermeiras de máscaras que vinham me dar papinhas de doente todos os dias, enquanto eu definhava.
Quando voltei a mim, ouvi o médico dizer:
- ... mas, com os avanços das pesquisas no campo da medicina, já temos uma cura para este mal raro.
Cura! Então havia uma esperança! Meus dias não estavam contados e eu podia esquecer a vida de leprosa. Animada, arrisquei:
- Estou disposta a me submeter a qualquer tratamento, doutor. Cirurgia, sessões de quimioterapia, até acupuntura, se for preciso!
- É mais simples que isso...
- Xarope? Pomadas? Aspirina? Repouso? – arrisquei
Então, o médico me explicou: para me curar, só preciso de doses regulares de você, todos os dias, e sem efeitos colaterais. Mas se eu não seguir o tratamento direitinho, a depender da evolução do meu estado, vou ter que ser mantida sob o efeito de sedativos ou, na pior das hipóteses, numa camisa de força.
Você vai ter coragem de negar auxílio a uma pobre enferma?
(Texto escrito em mil novecentos e dezessete anos)
Me assustei. Imaginei os suspiros fossem causados por alguma disfunção respiratória. A tremedeira nos joelhos bem que poderia ser o princípio de um Mal de Parkinson, os olhos lacrimejantes com certeza eram resultado de um problema oftalmológico. As palpitações indicavam claramente uma deficiência cardíaca. Mas o mais preocupante eram os devaneios. “Será que estou ficando louca?” – pensei.
Logo procurei um médico, e expliquei a ele todos os sintomas. Enquanto ele me escutava com interesse, torcia para que ele descobrisse logo qual a doença misteriosa que me acometia. Talvez um vírus africano desconhecido, ou quem sabe uma dessas síndromes raras com nome alemão que só atingem 0,0000001% da população.
Quando acabei meu longo e detalhado relato, perguntei, aflita:
- Então, doutor? O que eu tenho? Pode ser bem sincero, eu estou preparada para o pior – afinal, já tinha pensado na possibilidade do vírus africano e da síndrome rara.
O médico me olhou com uma expressão muito séria e me respondeu:
- Receio que você esteja sofrendo de amor.
- Amor?! Mas essa doença não foi totalmente erradicada através das campanhas de vacinação?
- Ainda ocorrem alguns casos isolados...
O médico continuou sua explicação, mas eu, atordoada, não podia compreender suas palavras.
A suspeita da síndrome rara quase se confirmava. Era o fim. Me imaginei vivendo numa colônia isolada, como as dos leprosos, cercada por enfermeiras de máscaras que vinham me dar papinhas de doente todos os dias, enquanto eu definhava.
Quando voltei a mim, ouvi o médico dizer:
- ... mas, com os avanços das pesquisas no campo da medicina, já temos uma cura para este mal raro.
Cura! Então havia uma esperança! Meus dias não estavam contados e eu podia esquecer a vida de leprosa. Animada, arrisquei:
- Estou disposta a me submeter a qualquer tratamento, doutor. Cirurgia, sessões de quimioterapia, até acupuntura, se for preciso!
- É mais simples que isso...
- Xarope? Pomadas? Aspirina? Repouso? – arrisquei
Então, o médico me explicou: para me curar, só preciso de doses regulares de você, todos os dias, e sem efeitos colaterais. Mas se eu não seguir o tratamento direitinho, a depender da evolução do meu estado, vou ter que ser mantida sob o efeito de sedativos ou, na pior das hipóteses, numa camisa de força.
Você vai ter coragem de negar auxílio a uma pobre enferma?
(Texto escrito em mil novecentos e dezessete anos)
5 Comentários:
como eu já havia dito, esse é o meu predileto!
Cade o nosso texto?
Ufaaaaa!!! Achei que era um texto com destinatário certo e já estava pensando a que tipo de tortura ou exorcismo eu ia lhe submeter para extirpar este mal. Não me refiro ao amor, mas ao objeto amado. Amar é assim mesmo, cada vez mais esquisito!!
Concordo com Paulete na descrição: "amor é esquisito".Perfeito.
Concordo plenamente! Pau nele! Hahaha! Tô imaginando você em mil novecentos e dezessete anos, com farda do São Paulo e um moleton da Disney, escrevendo horas e horas seus contos e poemas! Como diria rodrigo... "autistas"! hehehe!
Adorei!!!!!
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